quarta-feira, 14 de março de 2012

das coisas que a baleia tenta comer...

Acabo de abrir a porta do quarto:
vazio.
Roupas pelo chão, livros espalhados, 
cama desarrumada...
Me faltam curvas cor de mel,
me faltam cores de desenhos em pele que cheirava a prazer,
meu berço, meu terço,
vida bem vinda em mim,
ausência...



Lá fora o verão castiga,
aqui, o frio dói...
Me faltam as curvas cor de mel,
me falta o sono seguro,
a entrega;
me falta tanto nesse quarto cheio...
Um berço, um terço de mim,
e eu me faço ausência.
Onde está o caminho certo?

Exito em deitar-me,
me sinto pequeno para a imensidão da cama,
eu doo.
Te procuro em outro lugar, além de mim.
Será que você voltará para dentro da baleia?
Te prefiro dentro de mim...



Volto ao quarto, vazio.
Volto à mim: igual.
Meu berço, meu terço...
Que seja vida, porque és bem vindo,
vindo em mim,
e se for para ficar em algum lugar, que não seja na baleia,
fique em mim...

segunda-feira, 12 de março de 2012

verdades de agora








... Quando a dor é muito de nós, é presente e é verdade, as palavras são ausência ...








domingo, 11 de março de 2012

silêncios eloquentes...

me calei.
já era tarde, e agora eu sabia...
não calei pelo adiantado da hora ou pela sua ordem,
calei pela minha falta de força em continuar,
estava cansado.
dolorido.
calei em choro baixinho, abafado pela luz fraca...
calei pequeno na imensidão da cama à dois, à três ou há quantos mais você trazia...
Eu havia sido dor, agora começava a ser morte,
então achei melhor calar,
já é tarde, e não pelo adiantado da hora,
mas agora eu sei.
sua ordem era redundante,
o silêncio habitava meu ser.
transbordava verdades que eu temia ver,
calei.
encolhi os braços,
contive as vontades,
entrei calmamente em mim e percebi o tamanho da dor..
com fúria tentei remover cada pedaço seu em mim,
era tarde,
então calei, e esperei o dia chegar...

Dos almoços de sábado...



Procurei suas pernas por debaixo da mesa;
queria acaricia-las.
Sentia saudade da sua pele;
do seu calor.
Desejei seu falo.
Me refiz.
Quis mais, queria sua força.
Voltei a buscar suas pernas;
busca insana, velada, vã...
Me contive,
estávamos em público...




sábado, 3 de março de 2012

da entrega...

pupilas dilatando,
respiração ofegante,
corpo quente,
ritmo disforme.

som de dança,
neblina de pensamentos,
cheiro de entrega,
tato. contato.

de tanto gemer a puta se fazia ativa,
de tanto se entregar era santa,
de tanto entrar, de tanto sair,
de tanto sorver,
era puta a profana santidade que ela tinha.

não era só vida,
era gozo,
e gozar assim é morrer outros que por seu corpo já passaram
que em sua cama já deitaram, 
morrer assim, é só aceitar você em mim,
te receber, acolher com pureza...

a puta se faz santa ao matar os que nela ainda habitam,
se faz santa ao se jogar no precipício da carne tremula de prazer,
se faz santa em sangrar a carne como na cruz,
se faz puta sem luz, sem freio,
se faz entrega ao prazer,
e o que seria a entrega se não a santidade,
santidade de puta é entrega.

o ritmo não pára,
a vida não pára,
nada pára,
é vida, e só; simples como é.
e de tanto viver, se entregou...
se fez santa de tão puta que pode ser,
do que desejou ter.

o frescor do gozo é quente,
e de tanto desejar ela se faz santa,
e a puta de novo é santa.
não há carnal em tanto desejo de pele, de tato, de contato.
não há menos em tanta entrega,
e a puta há de ser sempre santa, enquanto for assim, puta.

das pupilas não se sabe, os olhos se fecharam.
os cheiros mudam,
os ritmos estafados mudam,
a pele ainda queima,
a respiração que há pouco era sonora, agora quase não se ouve,
o coração ainda bate em santidade,
e a cama é berço, é terço,

a santa deixou a puta em algum pedaço do caminho,
em alguma das curvas cor de mel recém saído do favo...

e as duas, ou a uma, que se faz duas, se separaram...
a puta morta com seu homens,
e a santa, adormecida ao lado de um só homem, nu.
a puta ressurgirá no próximo desejo, 
na próxima língua...
e a santa, se fará da entrega da puta,
da condução dos mortos da puta...
a puta sempre será entrega,
e a santa sempre será desejo.
sempre puta, sempre santa,
sempre duas, sempre uma.
sempre mais.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Onde estamos?

eu bato,
espero...
afoito tento me controlar.




espero mas a porta não abre.
espero mas você não sai,
não vem ao meu encontro,
será que realmente não estás?


bato mais uma vez,
ainda posso esperar...
as portas ainda estão cerradas...
onde está você?
onde está seu coração?


sem bater,
espero...
a dúvida começa a ser companhia,
começo ir embora,
e os pés teimosos plantados no mesmo chão...
você ainda pode sair,
abrir as portas,
mas onde está seu coração?
onde realmente você é morada agora...

eu roubaria mais uma vez as palavras do poeta,

e te falaria, dos berços, dos terços, da vida,
da sua vinda em mim...


sem bater, sem saber se ainda devo esperar,
não vejo mais nada, se não o embaçar das lágrimas
e de quem são elas?
onde você está coração?
eu continuo...