sábado, 16 de novembro de 2013

Uma mentira mal contada, descoberta, dói mais que mil verdades esfregadas à cara...

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Dor, o presente do adeus.

Caminhei lentamente pelo corredor do prédio.
As paredes sujas pareciam que cairiam sobre mim iminentemente,
que tentariam me engolir.
Abri a porta com dificuldade.
"odeio essas chaves, essa porta, essas paredes, essa vida..."
Andei pela sala,
voltei ao corredor. Entrei novamente. Chaveei a porta.


O tempo está mais rápido que o relógio?
mais denso que minhas vontades?
estou confuso.


Fui até o quarto, vazio.
Desliguei a torneira do banheiro,
voltei lentamente para a sala.
Vazio.


Vazios.


Sentei no sofá, 
"será que ele sempre foi tão desconfortável assim?!"
a janela fechada me asfixiou, abri-a.
O barulho da rua me incomodou.
Fechei a janela,
abri-a novamente.
Me senti um louco,
um fóbico que acha que vai sufocar,
um fóbico que acha que vai ser invadido por um mundo que não quer...
Me senti frustrado.
Quebrei os copos sujos no chão da sala,
bebi o resto do vinho, da garrafa mesmo.


Sentei no chão e chorei.
Chorei até soluçar,
até doer!
Dolorido levantei,
caminhei com a visão úmida e a atrapalhada até o banheiro.
Liguei o chuveiro que insistia em fazer um barulho infernal,
tirei a roupa.
Meu corpo parecia igual,
tudo parecia estar onde deveria estar...


Não entendi.


Não haviam marcas, nem cicatrizes, mas também não parecia que ainda houvesse um coração.
Entrei embaixo da água que esfumaçava o banheiro.
ela me queimava a pele branca, dando um tom rosado.


Senti cada um dos meus músculos relaxando, inclusive ele, o esquecido coração.
Senti o choro me dominar novamente.
Me permiti chorar, doer, socar a parede e gritar barbaridades sobre você,
permiti que água quente me afogasse de vez em quando,
quase morrer nos dá a certeza de estarmos vivos.
Eu estava vivo, a dor me certificava disso.
A dor era a dádiva que eu não podia explicar,
agora eu sabia: continuaria vivendo independente de você,
ou melhor, independente da sua ausência.
A vida seguiria,
Melhor arrumar a casa, a vida;
Alguém novo chegará...

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O Dono das Palavras

Era uma vez o Dono das Palavras...

   O Dono das Palavras era menino moço, recém chegando à idade de se dizer homem, e por isso já não podia mais possuir a sinceridade da mocitude, tampouco controlar a ira típica de tal fase, que agora era vulcão em seu peito. Tudo erupcionava naquele peito. Tudo se permitia quando a dor o visitava.

   O Dono das Palavras fora educado para ser discreto, ser doce, ser ordeiro, para quase ser servil; mas o garoto-homem agora estava chateado, furioso com a situação.

   E, mesmo sabendo que possuía grandes responsabilidades como o "Dono das Palavras", ele agora se sentia tentado. Queria falar da dor e da decepção em ser trocado, da raiva em ser enganado, das palhaçadas em ser "investigado", o garoto-homem queria que suas palavras ferissem como estilete o coração de quem o deixou sangrando, queria o Dono das Palavras fazer uso de sua única arma, mas queria que fosse assim, movido por esse turbilhão de emoções; pois do contrário, sabia que não o faria. 

   O garoto-homem não havia gostado de ter seu tempo entregue a quem não viu na reciprocidade uma virtude, e queria justiça com as próprias mãos, ou melhor, com as palavras das quais é o Dono. Queria falar tudo, gritar cada letra, sentir a garganta rasgar com a força do som, e a voz se afogar nas lágrimas que dele corriam sem sessar, queria se esgotar em verdades, e queria sumir.

   Mas o garoto-homem, o Dono das Palavras, não o fez. Deixou de usar de sua única arma, por entender que a guerra já estava perdida.  E mesmo se sentindo burro em ser crédulo, burro em ser paciente, burro em ser persistente, burro em querer controlar suas Palavras, foi fiel, guardou suas Palavras, doeu seus sentimentos, e depois os escondeu na madrugada, onde só ele poderia encontrar novamente.

   E assim, o garoto-homem, Dono das Palavras virou mais uma página, terminou um capítulo de sua fábula sem muita moral.

terça-feira, 28 de maio de 2013

verdadeiros segredos

... e ele terá: sessenta anos e garotos de programa.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Da história e da glória de não ser.

A inquisição ainda é a mesma.
O que mudou é meu nível de paganismo; 
as fogueiras e o que elas consomem;
quem ateia fogo, e quem se diverte com ele. 

sábado, 6 de abril de 2013

Indo

eu não entendia,
tampouco queria,
não havia em mim vontade ou necessidade de controlar,
apenas fechei os olhos,
e me deixei levar...

terça-feira, 19 de março de 2013

E aí a gente descobre que traição não tem fim...

nu, cru e despedaçado em verso, prosa e confissões

Acabo de entrar em casa, 
luzes apagadas,
silêncio que ensurdeceria a alma de qualquer um;
sempre me surpreendo com a capacidade que só o mais absoluto silêncio tem de eloquência extrema.
Tirei os sapatos.



    E com os pés no chão resolvi sentar em frente às páginas em branco para corrompê-las com verdades de quem já esteve com a cabeça nas nuvens e agora desconhece os limites do que é céu e dos que é inferno.


    Seria engraçado caso não doesse saber das ironias que a vida tem, e do seu senso de humor nem sempre amistoso. Há alguns dias eu estava preocupado, pensando que depois de tanto apanhar, de tanto sofrer havia desaprendido uma série de coisas, e já não sentia mais meu coração bater como antes; cheguei a pensar que o "garoto de água" de antes, agora era um "garoto de pedras", e que eu já não tinha mais um músculo involuntário pulsando no meu peito, que seria incapaz de voltar a sentir qualquer coisa. Feliz ou infelizmente eu estava errado.



Em silêncio comigo eu vejo a água escorrer,
sinto o calor,

vapor.
Preciso de um banho,

de uma lavagem,
queria esfregar a alma até que arrancasse seus pedaços que não me agradam.




    Finalmente aconteceu: a vida mostrou quem é mais forte. Levei uma "bela surra" fui traído, e decepcionado apanhei feito criança pela incredulidade em mim, e meu músculo involuntário pulsante parou; e da água que agora eu cria ser pedra se fizeram milhões de pedaços, e a dor permeou meu ser.

     Assim como creio que o suicídio seja a última e desesperada tentativa de alguém provar a si mesmo que se teve vida um dia*, a dor e o coração partido são as melhores formas de nos provar que temos sim o coração e que ele ainda funciona.



Me abaixei,
cheguei tão perto do chão quanto realmente estava.
respirei com sofreguidão até que meu peito apertado impedisse que mais ar entrasse em mim.
Involuntariamente ceguei pela umidade em meus olhos.
fiz o que tinha que fazer,
juntei todos os pedaços que se espalhavam disformes,
tentei, em vão, respirar profundamente.
Levantei, e ainda perto do chão continuo em dúvida: o que fazer com os pedaços de verdade em minhas mãos.


























* Apenas registrando que esse texto não é alusivo ou incentivo e tão pouco aprovo o suicídio.

quarta-feira, 6 de março de 2013

minhas dolorosas verdades

Pássaros não aprendem a voar batendo as asas na segurança de seus ninhos, mas se jogando em abismos...

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Grand' Hotel

    

    "A dádiva da dor"(Philip Yance) é um dos meu livros favoritos, demorei várias páginas e muitas horas de introspecção para começar a entender e concordar plenamente com as sábias e bem colocadas palavras do Sr. Philip, e elas sempre me serão eterna e fonte de embasamento em discussões, sobre a vida e o como entender suas nem sempre gratas ou esperadas surpresas; no livro Philip fala da alegria dos leprosos que eram isolados do convívio social, e aos poucos e sem sentir dor física viam seus corpos se desconfigurarem até a morte, para um leproso sentir a dor durante um processo necrótico é uma dádiva, é a possibilidade de buscar tratamento em tempo hábil. Da mesma forma levei tempo para entender o que Renato Russo queria realmente dizer quando cantava que "Clarice está trancada no banheiro, e faz marcas pelo corpo com seu pequeno canivete, seus tornozelos sangram e a dor é menor que parece", mas hoje não só entendo como solidariamente concordo com a garotinha indefesa que busca na dor o alívio e a certeza de estar viva, e que tenta provar a si mesma que existem coisas que machucam mais do que possamos controlar. Como profissional da área da saúde tenho na dor uma forte aliada para diagnósticos nem sempre fácies, e também tenha na mesma um carrasco que atrasa tratamentos e traumatiza pacientes com medo e tentando evitar essa sensação nada agradável.

    Dores físicas são quase sempre curáveis, podem ser tratadas por uma das inúmeras especialidades médicas, é questão remoção de fator etiológico. Mas quando a dor é emocional por mais que da mesma forma possamos contar com a ajuda de algumas especialidades médicas elas são menos exatas e por isso seu tratamento depende não necessariamente da remoção de fatores etiológicos, mas da aceitação dos mesmo, do aprendermos a lidar com eles. 


    Sem sobra de dúvida a dor física que tanto abominamos e maldizemos é quase sempre um presente ou um "puxão de orelha melancólico" nos mostrando tudo o que tínhamos e perdemos sem muito valorizarmos. Mas às vezes a dor física é uma tentativa de amenizar uma dor emocional que de tão intensa parece que irá nos consumir, e impiedosamente nos matar sem que possamos fazer nada, se não passivamente esperar.


  Não há nada melhor que a dor para nos mostrar que estamos vivos e para nos dar a certeza que não cabe exclusivamente a nós controlarmos o nosso nível de dor. 

    Eu tenho sido sucessivamente atropelado por caminhões que faço questão de ambicionar, de abastecer e às vezes de ligar. Agora, se eu fosse mais corajoso ou menos sensato, estaria sentado no meu banheiro, trancado; mas sei pelas experiencias de Clarice que não irá amenizar, sei que pelas páginas do Philip que estou vivo e por por estar vivo é que nunca estarei imune as dores que a vida me irá me impor.

    Estou vivo, e de forma ampla isso implica sentir dor também, e embora eu veja na aceitação da dor um conformismo inteligente não preciso ser hipócrita em dizer que gosto disso, ou que me regozijo de alegria por me sentir destruído, atropelado; mas posso dar a certeza de que isso me fará em um futuro não distante uma pessoa melhor, mais forte e generoso, e com a certeza de que apesar de tudo estou vivo.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Axioma





"s.f. Identidade de uma representação com a realidade representada; exatidão, autenticidade: verdade histórica. / O que é certo, verdadeiro: quer saber a verdade. / Princípio certo, constante; axioma: verdade matemática. / Boa-fé; sinceridade: falar com verdade. / Bs-art. Expressão fiel da natureza: retrato de grande verdade. // &151; loc. adv. Em verdade ou na verdade, certamente, seguramente, decerto  "

http://www.dicionariodoaurelio.com/Verdade.html





    Essas é a definição de um famoso e conhecido dicionário para a palavra verdade e creio que não haja quem discorde; mas o fato é que dentro desa definição tão engessada existe uma infinidade de formas de interpretar e vivermos nossas verdades pessoais. E com isso o que para um é verdade absoluta e inegável para outro se quer é admissível como existente, quanto mais como verdade, e é aí que nosso engessado conceito de verdade se torna um mutável conceito de verdade ainda assim verossímil e aceitável.



    Cada um de nós crê e segue algumas ou várias verdades, uns fazem delas justificativas outros as usam como forma certa para levarem sua vidas, ou administrarem seus conflitos; para uns não passam de desculpas ou forma de manipularem a situação a seu favor. Independente da sinuosidade do caminho em que cada um conduz suas verdades elas estão e estarão sempre presentes em nossas vidas, basta pararmos e observarmos, pois às vezes elas estão tão distorcidas aos nossos olhos que nem se quer parecem existir.


    Eu faço das minhas torpes verdades regras de vida das quais por mais fiel que eu seja não as faço imutáveis. Acredito em tudo no que se possa ter fé, mas de nem tudo faço uma verdade minha. Já fiz versículos de bíblicos verdades marcadas na pele pra que elas não fujam de mim em noites intermináveis e de alguns fiz desculpa para a liberdade que tive medo de assumir sozinho. Usei pensadores para fazer de suas verdades as minhas e assim não correr o risco de pensar. Embalado por melodias envolventes dancei verdades que expressavam mais de mim que eu conseguiria fazer sozinho. Agarrei no vento verdades absurdas que me confortavam e que por isso me eram exatas. Fiz de sonhos reais verdades pelas quais entrei em gurras e só pedi paz quando exaurido me dei por satisfeito com o que eu cri ser a vitória. Às vezes encontrei verdades no chão, sentado em um canto do meu mundo chorando e com medo de continuar. Senti verdade em dores que quase me mataram e em mortes que me fizeram mais vivo. E em algumas noites deitado no sofá ansioso pela manhã e fuga vi mais verdades que meus óculos permitiriam que eu visse. Alguns olfatos e paladares nos trazem mais verdades que outros. Em tudo há verdade, mas de nem tudo fazemos as nossas verdades. 

    Tenho me deparado com vários questionamentos e  um deles é sobre quais são minhas verdades e se  elas estão em um processo tão constante de mudança que nem eu mais consigo acompanhar?. Mas de todas as minhas verdades agora inquietantes uma que tem me atormentado é a de que "não se pode esconder uma cidade edificada sobre o monte", tenho duvidado um poco disso, tenho me sentindo meio "escondido". Não seria o eu uma cidade como realmente pensava? Ou não seria o meu monte tão grande quanto pensava? Será que me enganei tanto quanto meu real tamanho? O que há de errado com essa verdade que eu cria ser absoluta? Passei  dias dolorosos remonde essa questão e com ela questionando verdades adjacentes e o elenco que a compõe. Depois de penosamente sofrer essa verdade que antes era conforto e estímulo, acho que cheguei a conclusão: De fato não se pode esconder uma cidade edificada sobre o monte, mas se pode devastá-la com facilidade, pois ao contrário de cidades edificadas em vales, elas estão mais à merce da ação dos fortes ventos ou de outras inevitáveis ações avassaladoras da natureza que inevitavelmente chegarão.


    Minha cidade está devastada, conspurcada e sem condições de se apresentar pra mais uma batalha. O dolorido dessa verdade é que essa tragédia nada mais é do que fruto da ação de um só inimigo: EU. Minha cidade em ruínas e ainda a vista, foi bombardeada por mim e meus medos, por minha vontade de agradar, de dizer sim aos outros e de esquecer que alguns não são necessários para meu bem estar e manutenção desa cidade que com esforço ergui; Abafei  verdades menores que no montante final diziam exatamente que eu sou, e me perdi em meio a sujeira que eu mesmo produzi, esqueci qual a verdadeira face do palhaço atrás de tanta piada pintada em seu rosto. E caí no bordão: Que rei sou eu?!

    Ainda não tenho certeza sobre todas as minhas verdades ou sobre como continuar a mantê-las caso isso valha a pena. Mas sei que ponderar sobre elas é bom, é uma forma de nos expormos as nós mesmos, e mesmo que isso nos devaste e nos pare, quando voltarmos a andar pisaremos com mais segurança, cientes da vontade de continuar, mesmo que o caminho ainda não nos seja o mais seguro.

    Imutáveis ou não, em maior ou menos quantidade, prestes a nos paralisar ou impulsionar, elas sempre estão presentes em nós, então eu te aconselho: Reviva suas verdades, repense-as se necessário, recrie-as caso prefira, mas não deixe de viver baseado nelas. Afinal o que acreditamos ser especial assim o será.