segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

cErEjAs, MaMãO, pLáStIcO...

Almoço de trabalho, reunião com produtor, diretor, papo com amigos.


- Quero sorvete!

E lá fomos nós, rumo ao meu pote de cobertura com quase nada de sorvete.

- Ton, vou comer cerejas...

Piadas maldosas em pensamentos arrancam sorrisos maliciosos de canto de boca, e uma única frase:

- Você já comeu...
Piadas guardadas, risos expressados e contidos pela situação. E agora duas cerejas a menos no mundo, quer dizer: algo que nos venderam como cerejas.
Sim, “algo”, a culinária mundial também foi globalizada, editada, recauchutada e finalmente chegou a era do “parecer”. As coisas parecem finas, elegantes, gostosas... e às vezes até parecem verdadeiras, embora não passem de imitações, bem vindos a pirataria culinária!
No caso das cerejas, li em algumas revistas e posteriormente vi em programas de televisão que agora estão fazendo “bolinhas” de mamão verde e cozinhando em essência de cereja e corante vermelho, depois preparam uma calda que as conserve e as embalam para a venda a nível mundial, o que tem sido um sucesso devido ao baixo custo das mesmas e a grande riqueza na proximidade do sabor e textura. Pasme, mas nem o caviar escapou dessa brincadeirinha de “faz de cotas”, mas desse, (o caviar) falo em outro texto, o importante aqui são as cerejas, ou os mamões que se parecem / viraram cerejas.
Eu particularmente, nem me importo com o gosto que é extremamente próximo ao original, ao ponto de ter conquistado os mais diversos chefes do mundo inteiro. Mas uma coisa que me incomoda nessa história, é o fato de comprarmos algo que parece mas não é. Porque ninguém anuncia: “vendemos mamão em formato e sabor de cereja!”. É incrível e isso pode parecer exagero, mas no fundo é uma boa analogia (modéstia a parte), a cozinha agora parece nossas vidas, nos orgulhamos mais do que parecemos do das coisas que realmente somos, das que podemos sustentar como verdade, como certas, mesmo sabendo que jamais as seremos.
Comer cerejas feitas de mamão sem saber não me incomoda. Porém fico me perguntando: o que mais eu tenho comido que não é o que na verdade acho que estou comendo?!
Quanta gente eu tenho tentado “comer” para aprender algo e na verdade não são o que parecem, e por mais que superficialmente o gosto ainda lembra o original? Quantas pessoas estão nos passando experiências de vida que nunca viveram? Estou assustado, onde isso vai parar?
Quer saber (continuando com as analogias) prefiro as cerejas de plástico, todos sabemos o que são do que são feitas e para que realmente servem...

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