sábado, 3 de março de 2012

da entrega...

pupilas dilatando,
respiração ofegante,
corpo quente,
ritmo disforme.

som de dança,
neblina de pensamentos,
cheiro de entrega,
tato. contato.

de tanto gemer a puta se fazia ativa,
de tanto se entregar era santa,
de tanto entrar, de tanto sair,
de tanto sorver,
era puta a profana santidade que ela tinha.

não era só vida,
era gozo,
e gozar assim é morrer outros que por seu corpo já passaram
que em sua cama já deitaram, 
morrer assim, é só aceitar você em mim,
te receber, acolher com pureza...

a puta se faz santa ao matar os que nela ainda habitam,
se faz santa ao se jogar no precipício da carne tremula de prazer,
se faz santa em sangrar a carne como na cruz,
se faz puta sem luz, sem freio,
se faz entrega ao prazer,
e o que seria a entrega se não a santidade,
santidade de puta é entrega.

o ritmo não pára,
a vida não pára,
nada pára,
é vida, e só; simples como é.
e de tanto viver, se entregou...
se fez santa de tão puta que pode ser,
do que desejou ter.

o frescor do gozo é quente,
e de tanto desejar ela se faz santa,
e a puta de novo é santa.
não há carnal em tanto desejo de pele, de tato, de contato.
não há menos em tanta entrega,
e a puta há de ser sempre santa, enquanto for assim, puta.

das pupilas não se sabe, os olhos se fecharam.
os cheiros mudam,
os ritmos estafados mudam,
a pele ainda queima,
a respiração que há pouco era sonora, agora quase não se ouve,
o coração ainda bate em santidade,
e a cama é berço, é terço,

a santa deixou a puta em algum pedaço do caminho,
em alguma das curvas cor de mel recém saído do favo...

e as duas, ou a uma, que se faz duas, se separaram...
a puta morta com seu homens,
e a santa, adormecida ao lado de um só homem, nu.
a puta ressurgirá no próximo desejo, 
na próxima língua...
e a santa, se fará da entrega da puta,
da condução dos mortos da puta...
a puta sempre será entrega,
e a santa sempre será desejo.
sempre puta, sempre santa,
sempre duas, sempre uma.
sempre mais.

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